PREMIO ALVES REDOL Em A Hora das Neblinas, assistimos ao regresso de D. Sebastiao a uma Lisboa tomada por nevoeiros literais e simbolicos, que a envolvem e aos poucos vao limitando os percursos dos seus moradores. A cidade que se nos depara e uma Lisboa metaforica, futura mas quase contemporanea da nossa, cujos habitantes se foram esquecendo das glorias do seu passado e se encontram agora amorfos, tomados de uma mediocridade peconhenta, o que faz com que quase ninguem comemore o regresso de D. Sebastiao. Acompanhamos a odisseia do rei e a sua estupefaccao para com o que vai vendo, ao mesmo tempo que vamos testemunhando a sua humanidade, as suas fraquezas e duvidas, a sua ignorancia da missao a que esta destinado. Desfilam a nossa frente personagens bizarras e inesqueciveis, apresentando-se o romance como um fresco de uma certa modernidade, no qual as proprias palavras que o compoem sao postas em causa, rasuradas, reinventadas, ao ritmo diabolico do progresso inexoravel do nevoeiro.
Foi assim: os cientistas começaram a reparar que mais para os lados de Cascais
a visibilidade aumentara, parecia que por fim o nevoeiro ia começar a querer
levantar-se por ali; depressa houve manifestações de júbilo pelas salas do
Instituto, principalmente da parte dos representantes dos grupos industriais da
capital, aqueles que têm perdido rios de dinheiro por causa das meteorologias
da semana anterior, e que por isso mesmo se instalaram já no Instituto à espera
com ...